Imbróglio entre Rússia e Ucrânia pode refletir na economia mundial

Terceira maior exportadora de milho e trigo do mundo - o que, por si só, já reflete sua importância no cenário global -, a Ucrânia vive dias de tensão. Com a intervenção da Rússia no país, o temor de uma guerra se aproxima e a principal consequência disto é o desequilíbrio da balança comercial de ambos os países: nesta semana, o preço do trigo disparou, atingindo o seu maior valor desde outubro de 2012. Já o milho teve a maior alta de preço desde setembro do ano passado. O valor do gás, que é produzido na Rússia, também subiu e registrou o seu ápice no último dia 03/03.
Mas as preocupações não se limitam ao setor comercial: o Parlamento da Crimeia, província com um grau mais avançado de autonomia na Ucrânia, aprovou hoje (06/03) a realização de um referendo, que deve ocorrer daqui a dez dias, com o objetivo de anexar a região ao território russo. O referendo foi aprovado pelo Parlamento com 78 votos a favor, além de oito nulos, e abre ainda a possibilidade de a região continuar fazendo parte da Ucrânia, desde que haja um crescimento da autonomia local.

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Todo esse impasse teve início ainda em novembro do ano passado, quando o então presidente ucraniano, Víktor Yanukóvych, se negou a assinar um acordo comercial com a União Europeia, priorizando, assim, as relações com a Rússia. Em troca, o país vizinho se comprometeu a enviar um pacote de ajuda no valor de US$ 15 bilhões para a Ucrânia, além de reduzir o preço do gás importado. Diante da insatisfação com a decisão tomada, milhares de manifestantes iniciaram uma série de protestos na capital Kiev e em outras cidades do país.
Manifestantes agitam bandeiras da Rússia na província da Crimeia, Ucrânia
O governo repreendeu violentamente as manifestações - que, somente em fevereiro, provocaram 82 mortes - e chegou a aprovar leis no intuito de contê-las. O resultado foi a ocupação de prédios públicos e do palácio presidencial por milícias, obrigando Yanukóvych a abandonar a capital da Ucrânia. Também cercado, o Parlamento cedeu às pressões e afastou o presidente do cargo, iniciando a formação de um governo interino e a convocação de eleições para maio deste ano.
Interpretando os últimos acontecimentos como um golpe de Estado, a população das regiões leste e sul ucraniana - especialmente da Crimeia - saiu às ruas e contou com o apoio da Rússia, aliada de Yanukóvych, que tem interesses na região. Tais interesses baseiam-se na grande quantidade de gasodutos em solo ucraniano que transportam o gás da Rússia para a Europa. Além disso, a região da Crimeia abriga uma base militar russa, o que faz dela um local estratégico para o país.

Crise na Ucrânia: ex-república soviética está dividida entre lealdade à Europa ou à Rússia. Foto: Último Segundo